mais cedo ou mais tarde, todos sentimos um desconforto. por estupidez, acomodamo-nos. só voluntariamente o podemos interromper

março 11, 2006

[33] tantalógico



Era bom se eu não tivesse que me diluir em explicações desnecessárias, pois canso-me de tanto me repetir, embora sempre inventando novos trajectos e abordagens para o fazer. O que eu queria mesmo era que o meio discurso que dependuro da expressão te auxiliasse no caminho e te trouxesse com menos desgaste ao ponto a partir do qual, quando chegados, não conseguimos prosseguir. Poderíamos avançar no horizonte, penso, e espandir por clareiras fáceis até repousar, enfim.
Mas essa não tem sido a minha sorte. Não, contigo. Os recuos, teme-los, mas creio-os inevitáveis, pois adivinho que se o não fizesse te enlearias disfarçando normalidades canónicas, como cosméticas que harmonizam o semblante mas não as células que, assincrónicas, se desgastam a renovar-se a um ritmo descompassado com o da sua capacidade de regeneração. Pressinto-o contigo e mal não te quero; até o entendo sem esforço, por isso retrocedo, à tua espera.
Mas estou cansado, sabes? Cansado, menos de ti que do mundo, mas muito cansado. Porque o que quero é não explicar. Invejo os seres que se entendem na linguagem mais económica. Quase chego ao extremo de invejar nada ter para dizer; ou nada ser necessário dizer. Beber-te a ti, à vida, sem sofreguidão de suplício, e deixar Tântalo na moldura dos mitos, juntamente com todos os outros ícones que ilustram lições e remeter-me para a não fadiga.
Se me quiseres acompanhar, vem comigo. Esperar por ti, mais não posso. E querer-te aqui é moral que não se escreve nem se aguarda. Não estás, apenas, e lamentar é vício que não bebo.

1 comentário:

Anónimo disse...

Confesso que não me agrada esse "grau zero" da existência. E, no entanto, o texto seduz...

Beijos