mais cedo ou mais tarde, todos sentimos um desconforto. por estupidez, acomodamo-nos. só voluntariamente o podemos interromper

janeiro 30, 2006

[21] jogo de palavras


Então, era um jogo imenso de palavras. Elas vinham sozinhas e instalavam-se.

Depois, era o revolteio da sedução. As mais usadas, emplumadas, cheias de plásticas para se actualizarem e rivalizarem com as mais discretas. Tontinhas; como se não soubessem do seu justo valor, insistiam na comparação. Como se nas metáforas não se lhes visse os perfis - sim! tantos rostos, tantas as expressões!
Algumas achavam-se modestas para poderem servir a uma ideia mais rebuscada. Ora! Presunção, isso sim! Queria ver como se sentiriam se as deixasse sentadas e não as fosse convidar para rodopiar na dança. Pego-lhes, pois. Acalmam.
Mostro-lhes aquelas mais pequeninas; as palavras-elo. Primeiro, desdenham, mas depois lá percebem que são como as consoantes, que precisam das vogais para se realizarem. É. Onde já se viu realizar-se uma palavra sozinha? Lá as convenço. Acalmam.
Quando desistem de se enfatizar, quando regressam à sua dimensão finita, é aí que as seduzo eu!
- Que é lá isso de se resignarem? Quem as deixou que se acomodassem? Vieram, vão ter que dançar!
Então, cada uma revela o seu ritmo, o seu compasso, o seu pulsar. São tantas as coreografias possíveis que entontecem e querem parar. Não deixo! Não deixo!
- Não vieram sozinhas? Alguém as chamou?
Titubeiam. E reagrupam-se em naipes. Sabem que se estiverem entre pares estarão mais seguras. Tontinhas. E esperam que as chame para dançar. Qualquer delas expectante, oscilantes entre a expectativa do que são e do que as obrigarei a intentar.
Só de as ver me sinto bem. Quando vêm, acalmo. Tontinha. Tão perdida em enleios quanto elas em humores.
Ao fundo, um violoncelo a tocar. Acalmo.


Woman Playing the Violoncello
, Róbert Berény, 1928
Hungarian National Gallery, Budapest

janeiro 29, 2006

[20] § Gémeos


§ Gémeos


§ Dois galhos
do mesmo ramo
perfeitamente iguais
que em mesmo parto
nasceram

§ Dois reais, de outrem
compostos
ou supostamente
coetâneos
normais

§ Um, quebra ou parte
o outro resiste

§ Gémeo

© 2006, t(orto). Todos os direitos reservados

janeiro 21, 2006

[19] .4. excesso e esmola


Os meus excessos não são projecções de sombras ilegíveis dos meus abraços. Se ferve o fruto, se mela o líquido, se no fim tudo acaba em enjoo ou se definha, não se encerra a fonte! Se jorra e se se renova, se me ensopa e tudo em volta, o prémio é só para quem sabe que excesso preso é que degenera em esmola. Quem nada disso entender, que passe célere! Só a intuição devolve o olhar que o tempo engloba. Afora isso, o tempo não tem tempo! - nem que eu explicasse desde o começo ou apresentasse prova. E eu, odeio esmola!


[18] .3. o ofício de ouvir os braços


Pouco se fala sobre a vontade que nasce espontânea. É rapidamente absorvida como inquestionável; crê-se que é genuína, e é tudo.

Os que ousaram acreditar poder falar sobre a vontade, conseguiram reunir - em quê?, dez páginas, doze linhas, cento e vinte e nove palavras? - um fugaz momento iluminado, não de reflexão, mas de revelação. Foram felizes e, felizmente, breves; e é tudo.
Ah! Esta indelével sensação de estar tudo por fazer!...

janeiro 20, 2006

[17] mulher inteira


Não adianta explicar que Eugénia amava além das medidas, porque medida é um conceito que ela faz explodir e transbordar de todos os estereótipos que conhecemos das mulheres. Deitei-me com muitas para entender que a essa Eugénia eu não a posso arrumar certinha dentro de nenhum ficheiro, como tenho de outras onde rebolei, me deliciei, com quem aprendi, me desdobrei e entreguei nas seivas dos gozos.
Eugénia é a minha referência de futuro. Acho que é isso. Ela mostrou-me a cor da carne dos sonhos, desenhou comigo a nudez dos pensamentos e nunca teve vergonha do suor que escorre na palma das mãos quando se tem medo, nem sequer nunca hesitou em mostrar-me as cavernas onde habitavam os seus demónios ou os seus anjos. Ora, isso não se consegue desgarrar das lembranças e pesa tanto, mas tanto na minha memória, que todas as rotas que aleatoriamente fui pisando no encalço de uma mulher inteira, sempre me fizeram esbarrar na impossibilidade da concretização desse desejo - Eugénia não tinha sido produzida em série e eu tinha tido a sorte de me ter cruzado com a única, de tê-la tido sentada nos joelhos, de lhe ter lido toda a poesia nos cabelos desgrenhados, na garganta aberta, no êxtase.
Se hoje aqui falo de Eugénia foi porque acabei de lhe deixar uma orquídea sobre o túmulo. Não pude deixar de reparar que eramos apenas homens os que a acompanharam. Não conhecia nenhum. Aparentemente, nenhum se conhecia também.
Entreolhámo-nos com a mesma cumplicidade e aparente estupefacção. De uma forma natural, fomo-nos cumprimentando e tacitamente, no final da cerimónia - sem padre, sem ritual religioso -, agrupámo-nos ao pé do portão e saímos juntos, em silêncio, dirigindo-nos àquele café sempre providencial que ninguém esquece de acoplar a um cemitério. Podem descrer de acreditar, mas hoje eles ajudaram-me a conhecer Eugénia melhor ainda. E como é linda, e livre, essa mulher inteira!...

[16] conciso


Conciso, um poema, se nas palavras sopesadas confluírem ideia, abstracção, e ainda - além de tudo, sobretudo - se dentro dele se puder ler o poema que não se escreveu. Consiso o acto, o interacto, o momento exacto da captação do pensamento que, sem fronteira, se evade e se deixa manietar pelo jogo da sedução.

Embora pareça inteiro, deve propiciar a reescrita, surpreendido pelo olhar de quem o imergir pejado de novos e múltiplos conhecimentos. Cada nova leitura o transformará num novo poema; como se tivesse acabado de ter sido escrito - mas disso nada pode suspeitar o leitor mais recente: o responsável involuntário; o cúmplice da mão primeira.

janeiro 19, 2006

[15] desconstrução

Encontrei isto dentro de um poema
Estava deslocado
Sem nenhum sentido estar ali ao lado
Das palavras quentes
Dos sonhos latentes
Parecia gralha dentro de um morfema
Encontrei isto dentro de um poema
Estava desfocado
Quase lhe tocava, mesmo ali ao lado
Parecia halo, até dava pena
Encontrei isto dentro de um poema
Estava transviado
Pertence-te agora, já podes guardá-lo
Poderá um dia dar novo poema



Encontrei isto dentro de um poema
Estava deslocado
Sem nenhum sentido estar ali ao lado
Das palavras quentes
Dos sonhos latentes
Parecia gralha dentro de um morfema

[esta seria uma estrofe principal, caso não estivesse pegada às restantes. é a partir desta que as outras ganham forma; como se apenas servissem para desdobrar a ideia]

o redondo começa pela repetição do verso:
Encontrei isto dentro de um poema
até o modo de construção se repete, como quem explica, ou esclarece

a seguir, se houvesse estrofes, seriam assim:
2
[Encontrei isto dentro de um poema
Estava desfocado
Quase lhe tocava, mesmo ali ao lado
Parecia halo, até dava pena ]
3
[Encontrei isto dentro de um poema
Estava transviado
Pertence-te agora, já podes guardá-lo
Poderá um dia dar novo poema ]

ou seja: 2 quadras, ambas certas entre si, mas desconfiguradas da 1ª, por isso que a 1ª é a mais importante. as seguintes são o desenvolvimento e terminam na conclusão: os 2 versos finais

depois, tens outra particularidade: repara no que é repetido, para além do verso de abertura, que se repete nas 2 outras estrofes, como que a abrir.
tens o "estar ali ao lado" e o "mesmo ali ao lado"

o poema é redondo porque termina com a palavra 'poema', como se apenas se suspendesse e afinal não houvesse conclusão. o próprio último verso deixa a hipótese em aberto "poderá um dia (condicional) dar novo (renovar-se/ ser reaproveitado) poema"

outra particularidade:
Estava deslocado
Estava desfocado
Estava transviado

(a necessidade da partição em 3 é significativa, pois, como na tríade hegeliana (tese/ antítese/ síntese) há uma estrutura perfeita de unidade no nº3, como em princípio/ meio/ fim) etc

logo.... aquele poema, adicionando-lhe a interpretação, é um ritual de fechamento (pelo 3, pela entrega/ devolução, pelo redondo da forma. a união das 3 estrofes foi propositada, para que ficasse unido o poema num todo, como se fosse oferecido com as mãos em concha)

conclusão/ interpretação:
encontrei isto (não se sabe o quê, mas por certo algo de bom que já não serve, que sobra), mas que não fica bem ao lado desta outra coisa (palavras quentes/ sonhos latentes). «por isso, toma e que te faça bom proveito... que pode ainda vir a servir-te para alguma coisa».

claro que este poema tem vida própria e poderá ser lido como bem se entender. dependerá sempre daquilo que ali se quiser ver, pois do ponto de vista da autonomia (desde que algo é dado ao mundo, deixa de ser pertença do seu obreiro) a obra pertence a quem a lê. esteticamente, está apoiado na rima, porque ali a rima é importante; a rima marca um ritmo propositado de paragem em certos sons.

por isso que a mensagem - sendo o mais importante - será? - tem que estar estruturada sobre uma construção. senão, seria um desabafo e não um poema.

por isso eu digo que muita gente escreve sentimentos, desabafos, lamechices, mas nota-se pela estrutura que não foi 'obra'/ poema/ texto acabado (pintura). às vezes fica-se pela ideia de uma coisa que se quer dizer mas não se trabalha a arte de a mostrar.

janeiro 18, 2006

[14] fosso


Não vou eliminar esse fosso que faço no dia naquelas duas horas que lhe roubo. Encastro aí os teus gritos lânguidos e é onde sorvo a seiva que emanas das coxas sempre que te beijo. Prometo ficar. E minto. Se te roubo da dor é por rejeitar a mola desgasta pela rotina do enfado. Ofereço-te mais do que o corpo. Se me arrasto para casa na casca de um ser, a tua serenidade vale a ausência do resto. Sem ti eu não presto. Mas sei que se te trouxer para a rua, depressa o acaso, a roldana oleada, num ápice aplana os picos de orgasmo que guardo isolados.

Duas horas contigo. E o mundo não mexe.

janeiro 14, 2006

[13] homens-língua

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janeiro 13, 2006

[11] dixit .1.


"Rejoice, mediocrity!" - Antonio Salieri, in the film Amadeus

janeiro 12, 2006

[10] pensámos nada

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janeiro 09, 2006

[9] rotação





a interna circulação

arrisca um texto
rodam paráfrases
do mesmo silêncio
.
atrito insuportável

[8] .2. palavras de alguém











Aprendemos a ouvir palavras antes de se gastarem. Vinham com sons e com imagens e pertenciam a quem as proferia. Eram as palavras de alguém. Nutridas por filosofias próprias, eram-nos impostas com um perfil normativo cuja função era formatar-nos. Rapidamente distinguimos uma fala comum para expressarmos necessidades primárias, que usávamos preferencialmente acompanhadas de miméticas expressões de fino polimento.

Havia verbos como o querer-se-faz-favor, o poder-se-faz-favor, o gostar-de-se-me-deixarem, ou os ir-para-, vir-de-, ficar-, estar-onde-nos-quiserem. Era o tempo da interiorização da linguagem obediente; o psitacismo verbal. Alguns nunca o chegaram a ultrapassar. São felizes - diz-se.

janeiro 08, 2006

[7] então











afinal ardia o tempo

dentro das mãos e não o via
era eu muito pequeno
era um menino - então -
sorria
tinha pai e mãe
avós uma família
tinha tudo o que não via
e tempo - então -
ardia

janeiro 06, 2006

[6] .1. aros de fotos


Dificilmente se esquece, embora a memória não seja a única responsável pelas lembranças. O acto de recordar encarrega-se de limpar imagens e de limar arestas, como o faz o visionador de takes na fase de montagem de um filme.

Já tenho pensado em escrever sobre aqueles segundos excedentes de película que não são aproveitados; aqueles que se eliminam como quem corta o que ficou desenquadrado numa fotografia mal tirada. Porque é assim que a memória desvaloriza os imensos segundos da nossa vida que acabamos por não achar dignos de relevância.
~~~
Concentro-me e rapidamente elejo um ao acaso:
um escape solto de uma mota que suja o silêncio. obriga-me a mover os olhos, acompanhando paralelamente o som que se desloca. embora não o veja. O roçagar da dobra da roupa ao mexer-me na cama. o lençol a deslizar sobre o rosto acrescenta um outro som, menor. embora mais perto dos ouvidos, mas mais distante da atenção.
Quanto tempo terá este momento durado?
De que pensamentos me terão estes segundos distraído?
Em que posição nos colocaram, a mim e à mota, relativamente à relação espaço-tempo do universo?
~~~
Pequeno. tão pequeno aquele quarto em que eu dormia. A cama encostada a uma parede e eu, deitada de lado. as costas abrigadas pelo ângulo que as duas paredes formavam. olhos fechados, virados para a janela. filtrada, uma mancha de luz que as pálpebras encobriam. A porta. a uma nesga de fechada. apenas o ar podia entrar. Havia noites em que levava o rádio para a cama. deixava-o a tocar baixinho até me deixar adormecer. Tantas vezes. adormecia sem dar por isso. e ele ficava toda a noite a tocar. De manhã, quando os sons enchem o silêncio. quando achamos estarmos ainda em silêncio. dava por ele ligado. quase inaudível.
~~~
Detenho-me sobre a importância das coisas sem importância; aquelas que não recordamos - que só são marcantes se as enquadrarmos numa história. São esses os aros dispensáveis que rejeitamos das recordações. Com eles, só com esses, tenho enchido de significado preciosos segundos das minhas inúmeras vidas.

janeiro 05, 2006

[5] prólogo


É claro que ainda me acontecem as dúvidas. Rectifico: cada vez me acontecem com maior acutilância. A noção desgastada de que a aprendizagem se faz pela repetição pode até não se aplicar sempre pelo
rewind mode. (Os franceses usam a palvra répétition para ensaio, o que não significa reproduzir o que foi feito anteriormente, mas sim repetir até que o resultado se aproxime o mais possível do grau de perfeição que se pretende atingir.) Digamos que se refinou em mim o conceito de dúvida - pode repetir-se a situação, mas não a atitude, logo, a dúvida é muito mais acutilante.
É isso.
Enfim, é o mais próximo daquilo que consigo cartografar.

A tenra-idade é um ventre liso, como lisa a crença, a esperança; mas também o átrio a partir do qual se escancaram as portas para a dura-idade.
Voltei muitas vezes ao átrio do ponto de partida - como alguém a quem são dadas muitas vidas.
Já usei várias.
E não sei quantas ainda poderei vir a usar. Nessas répétitions, pisei muitos palcos, contracenei com muitos actores, interpretei muitas personagens, recebi a direcção de várias escolas dramáticas.

Em pequenos quadros, apetecia-me tentar a experiência de emoldurar algumas dessas múltiplas cenas, que fazem agora de mim expectador, pelo distanciamento e pela perspectiva em que me coloco. Fica a intenção não agendada para quando me voltar a apetecer.

[4] acontece-nos

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janeiro 04, 2006

[3] sentimentos; um certo estado de corpo


"(...) um sentimento é uma percepção de um certo estado de corpo, acompanhado pela percepção de pensamentos com certos temas e pela percepção de um certo modo de pensar. Todo este conjunto perceptivo se refere à causa que lhe deu origem. Os sentimentos emergem quando a acumulação dos pormenores mapeados no cérebro atinge um determinado nível. (...)
A minha hipótese não é compatível com a ideia de que a essência dos sentimentos, ou a essência das emoções, quando emoções e sentimentos são considerados sinónimos, é simplesmente uma colecção de pensamentos com certos temas ligados a um certo rótulo emocional, como, por exemplo, pensamentos de situações de perda em relação a tristeza, e referidos ao objecto que os causou. Julgo que essa ideia tradicional sobre aquilo que são os sentimentos, sem referência ao estado do corpo, esvazia irremediavelmente o conceito de sentimento e de emoção. Se os sentimentos fossem meros agrupamentos de pensamentos com certos temas, como seria possível distingui-los de quaisquer outros pensamentos? Como seria possível manter a individualidade funcional que justifica os sentimentos de emoções como um processo mental particular? A minha ideia é de que os sentimentos de emoções são funcionalmente distintos porque a sua essência consiste em pensamentos sobre o corpo surpreendido no acto de reagir a certos objectos e situações. Quando se remove essa essência corporal, deixa de ser possível dizer «sinto-me feliz», e passamos a ser obrigados a dizer «penso-me feliz». E é evidente que se passássemos a falar da nossa felicidade com a expressão «penso-me feliz», seria legítimo perguntar por que razão os pensamentos são «felizes». Se não tivéssemos a experiência do corpo em estados aprazíveis e que consideramos «bons» e «positivos» no enquadramento geral da vida, não teríamos qualquer razão para considerar nenhum pensamento como feliz ou triste.

António Damásio, AO ENCONTRO DE ESPINOSA, As Emoções Sociais e a Neurologia do Sentir, Círculo de Leitores, Lisboa, 2003, págs 79-80

[2] caminhemos

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janeiro 03, 2006

[1] post de intenções

Acho que
interrupção é uma boa forma de dar início a este blog; voluntária porque tenho vontade de o fazer. Quanto à estupidez, é porque a abomino.

Não trago de momento a intenção de linkar outros blogs, embora tenha muitos que visito com gosto, mas cansa-me a troca de visitas como pagamento, sobretudo as de quem usa as caixas de comentários apenas com o intuito de dizer que esteve presente. Aborrecem-me as obrigações de cortesia e a banalidade. Na maior parte dos casos, os internautas lêem os posts de uma penada, sem terem o cuidado de prestar a atenção que um texto literário merece. Este meio de comunicação, livre por excelência, é muitas vezes torpemente utilizado. A interactividade perde-se por meandros perfeitamente desnecessários e foge ao propósito que eu pretendo, que é simplesmente o de poder dar livre expressão às palavras, aos pensamentos, à criatividade, sujeitos apenas à disposição que me mover ao longo da minha presença por aqui.

Se não der prazer aos que aleatorimente aqui vierem parar e que não queiram regressar, isso será compreensível. Porém, cansei-me da fidelidade a uma linha editorial. Apetece-me muitas vezes produzir textos completamente díspares sem ter que estar com preocupações sobre as características dos leitores. Não quero alimentar expectativas, seguir linhas de coerência e ter que manter esse espartilho apertado.

Este, pois, pretendo que seja um espaço livre, onde possa experimentar a liberdade das várias escritas sem preconceitos do gramaticalmente correcto, do insipientemente instituído, da identidade autoral confundida com a identidade pseudónima. Onde possa dar a palavra às minhas vozes interiores de alegria, de cansaço, de amor e desamor, do masculino e do feminino, do que, enfim, a literatura tange de universal e nos rende seres além-biológicos.

Quero aqui ser um ente literário; que seja a escrita a despertar reflexão, paixões ou ódios - mas nunca dirigidos à pessoa por detrás das letras.

A caixa de comentários estará à disposição, sem restrições de anonimato, ou senhas de confirmação pidescas. Contudo, reservo-me a prerrogativa de apagar os comentários que considerar irrelevantes ou que nada acrescentem. Em suma: fazer valer a tal interrupção voluntária da estupidez.


Serão sempre bem-vindos os que estiverem para lá do bem e do mal e de más relações com o preconceito!


ive