mais cedo ou mais tarde, todos sentimos um desconforto. por estupidez, acomodamo-nos. só voluntariamente o podemos interromper

março 11, 2006

[33] tantalógico



Era bom se eu não tivesse que me diluir em explicações desnecessárias, pois canso-me de tanto me repetir, embora sempre inventando novos trajectos e abordagens para o fazer. O que eu queria mesmo era que o meio discurso que dependuro da expressão te auxiliasse no caminho e te trouxesse com menos desgaste ao ponto a partir do qual, quando chegados, não conseguimos prosseguir. Poderíamos avançar no horizonte, penso, e espandir por clareiras fáceis até repousar, enfim.
Mas essa não tem sido a minha sorte. Não, contigo. Os recuos, teme-los, mas creio-os inevitáveis, pois adivinho que se o não fizesse te enlearias disfarçando normalidades canónicas, como cosméticas que harmonizam o semblante mas não as células que, assincrónicas, se desgastam a renovar-se a um ritmo descompassado com o da sua capacidade de regeneração. Pressinto-o contigo e mal não te quero; até o entendo sem esforço, por isso retrocedo, à tua espera.
Mas estou cansado, sabes? Cansado, menos de ti que do mundo, mas muito cansado. Porque o que quero é não explicar. Invejo os seres que se entendem na linguagem mais económica. Quase chego ao extremo de invejar nada ter para dizer; ou nada ser necessário dizer. Beber-te a ti, à vida, sem sofreguidão de suplício, e deixar Tântalo na moldura dos mitos, juntamente com todos os outros ícones que ilustram lições e remeter-me para a não fadiga.
Se me quiseres acompanhar, vem comigo. Esperar por ti, mais não posso. E querer-te aqui é moral que não se escreve nem se aguarda. Não estás, apenas, e lamentar é vício que não bebo.

março 10, 2006

[32] inteligências


- Garanto-te que é muito inteligente!

- Não questiono! Aliás, isso é visível. Um discurso arguto, um bom manuseamento da informação, até um certo humor tácito e tático. So what?
- Achas que se não fosse, me teria despertado algum interesse?
- Logicamente que o facto de a teres escolhido é por si só garantia! Mas não me referia a isso.
- Então? Não entendi.
- Tento explicar, se conseguir. Nem sempre a inteligência é homogénea...
- Hm?
- Ou seja: muitas criaturas inteligentes desenvolvem aptidões especializadas, atingem picos de careira; destacam-se profissional e até socialmente. Porém, esse desenvolvimento não é par das emoções, por exemplo.
- Sim, de facto. Conheço muita gente que não gere de forma harmonioza a sua esfera emocional.
- Queres melhor exemplo do que esse desequilíbrio? Ainda que o possas justificar como reacção a um logro, a uma decepção perante uma expectativa que foi criada, não crês que se fosse munida de uma inteligência dita emocional as reacções teriam sido diferentes? É a isso que me refiro: até pela forma como alguém deixa revelar um desequilíbrio se pode ler como essa pessoa é intrinsecamente estruturada.
- Tens razão. Dito assim, dizer de alguém que é inteligente não a define.
- Não a define.
- Não.

[31] .5. (re)começo .3.

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«se não os consegues vencer, junta-te a eles»
«se não os consegues vencer, não jogues o jogo»
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Esgotei as deambulações sobre o tema. A realidade teima em ilustrá-lo mais fielmente do que alguma vez serei capaz, e, refutar o óbvio, não é a minha luta.
A atitude do «se não os consegues vencer, junta-te a eles» não condiz minimamente com a dorsal da minha praxis - o que me faz reportar a uns bons pares de anos atrás, quando fixei uma outra frase alternativa, cujo autor escolho não citar, que era «se não os consegues vencer, não jogues o jogo».
Para quê sequer tentar educar quem não quer aprender?! Embora lamente tout court, desviante seria associar-me a um colectivo onde não me reconheço.
Recomecem! Recomecem do falso ponto zero! Atrevam-se a acreditar, mas não me incluam. Estamos entendidos?
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