mais cedo ou mais tarde, todos sentimos um desconforto. por estupidez, acomodamo-nos. só voluntariamente o podemos interromper

fevereiro 15, 2006

[24] a importância de se chamar...


- Bom dia, menina... Desculpe. Queria dizer o seu nome mas não me lembrei logo. João, não é?
- Sim. Bom dia.
- Desculpe me meter, como é mesmo seu nome? Maria João, é isso?
- Sim. Para um brasileiro é meio estranho, não é? Sei que Maria José existe.
- É. Mas Maria João, não. Aqui, com você, já conheci cinco. Agora já começo a nem reparar - sorri. - Quer saber? Meu avô... meu avô, não, meu bisavô se chamava João Abel de Oliveira. Era português. Minha bisavó, italiana. Taí, emigraram pro Brasil. Sabe como é que é.
E o gaúcho pequenino sorria, sobranceiro; orgulhoso da sua ascendência de árvore oleaginosa, cuja tonalidade azeitona persistia nos traços, agora mesclados pela diáspora da esperança do mata-fome.
- Ainda tem tabaco a preço antigo? Diga-me lá o que há.
- Olhe, menina João, esta prateleira ainda é toda a preço antigo.
- Ai que bom! Dê-me então dois desses azuis, se faz favor.
- Isto é uma vergonha! Em Espanha são todos a menos um euro!
- E a gasolina também! - acrescentava o brasileiro, que não queria arredar-se da conversa. - E a maior parte vai para o imposto! - E dirigia-me o olhar, à espera que eu continuasse. Apenas sorri, aquele sorriso de anuência, educado mas distante, e preparei-me para pagar.
- Então, muito bom dia.
- Olhe, menina Maria João, foi um prazer conhecer você. Sabe? Meu nome é Jacob. Em italiano é Jacomo.
- Aqui está à vontade porque também é Jacob - sorri.
- É. Mas aqui me disseram que é nome de papagaio.



2 comentários:

Mushu disse...

Want a cracker? ;)

Anónimo disse...

Parece demais com uma conversa que tive com minha querida emejay, dia desses. ;)

Um beijo desse lado do mar.