mais cedo ou mais tarde, todos sentimos um desconforto. por estupidez, acomodamo-nos. só voluntariamente o podemos interromper

fevereiro 19, 2006

[25] a cada um a sua medida


- Sabes, a partir dos trinta não se sente nada o tempo a passar... porque se colam os anos e não sentimos em nós alterações. Quem nos olha é que nos julga. Na passada sexta-feira, jantei com dois amigos de idades diferentes da minha (quarenta e três); eles, trinta e quatro e vinte e oito. A conversa é tão sem idade, sabes?
- Claro! Há quem seja velho aos vinte e dois.
- Isso. Mas vais encontrar quem te olhe achando-te um senhor e tu vais rir por dentro.
- E por fora também. E essas tuas jantaradas, são animadas?
- Umas, são; outras, mais calmas. Depende das turmas. Há uma coisa engraçada que acontece com o passar dos anos: eu defendo que a inocência se ganha, ao invés de se perder... Por isso, cada vez é mais interessante estar com pessoas, porque me sinto confortavelmente quando nua.
- Como assim?
- A naturalidade desarma poses, sabes? E as pessoas quando estão naturalmente desguarnecidas de defesas, são tão mais interessantes... A simplicidade é o mais alto grau de sofisticação, dizia Da Vinci. Dá que pensar... Acresce uma outra vantagem: se te apresentares desguarnecido e vulnerável reduzes substancialmente a vontade do outro te prejudicar.
- Há quem pense o contrário: que está mais desprotegido.
- A arte de viver... aprende-se.
- Achas que é mais fácil agora do que quando eramos mais novos?
- Sim. Não duvides. É uma questão de alterar estratégias: não as usar!
- Que estranho. A mim parece-me sempre mais difícil.
- Será, por acaso, uma adaptação? Ou terá que ver com a tua maneira de ser?
- Não sei. Acho que talvez seja a relutância da falta de tempo.
- Deixa pra lá... sou eu que sou assim mesmo. Mas, falta de tempo? Usar de estratégias é usar muito mais tempo.
- Passo tempo demais a trabalhar.
- Dei-me tréguas de falta de tempo... suspendi a minha actividade, pela pura e simples razão de achar que mereço tempo. Na maior parte dos casos, as pessoas não abdicam de um certo status adquirido... Sei que poucos se atreveríam a fazer como eu faço, mas a vida é feita de escolhas. Mas esses balanços de vida penso que se dão por fases e nas idades próprias. Cada um tem que encontrar a sua medida e dispensar amarras desnecessárias... Mas isso, só o tempo ensina. Por isso, se sentes falta de tempo, reavalia-o e reestrutura-o.
Assim tem sido a minha vida: reorganizar espaço e tempo.

1 comentário:

Anónimo disse...

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