mais cedo ou mais tarde, todos sentimos um desconforto. por estupidez, acomodamo-nos. só voluntariamente o podemos interromper

fevereiro 03, 2006

[22] o coleccionador




Descobri-me no meio dos teus objectos quando te surpreendi a quereres mudar-me o estofo dos sofás, as cortinas do quarto e o jogo de pratos - propositadamente de cores sortidas - que tenho a uso na cozinha. De início, achei-te criativo e, à ideia, um revigorante renovar de ambiente. Vim a comprovar mais tarde que eras completamente destituído de imaginação. Esses teus assomos de mudança eram afinal recuos ao estereótipo que conhecias, sem o que não te sentirias confortável.
Hábil nas escolhas, à tua estética antecipei a minha - desculpa dizer-te agora, mas em todas as cores há casamentos felizes, desde que saibas harmonizar volumetrias e protagonismo.
Quis dar-te tempo para que desabrochasses em sensibilidades que não tinhas. Sempre se têm capacidades em potência que são despertas por estímulos vários - pensava -, mas nisso eras afinal limitado. Mestre no manejo do que conhecias, mas pouco afoito à aventura da descoberta.
Foi rápido começarmos a estreitar o tempo que partilhávamos. Rápida, também, a velocidade a que nos fomos afastando. Decididamente, eras tu quem destoava por entre os meus objectos.
Hoje, lembro-me de ti quando reparo que, por preguiça, ainda não me desfiz do orelhas de couro de vitela com que insististe personalizar o melhor ângulo de luz da sala. Tenho que o despir da manta de xadrez multicolorida com que o encubro, a ver se me lembro de me livrar de ti de vez aqui de casa.

1 comentário:

mjm disse...

Espero q tenha melhorado com esta experiência.
;)