Então, era um jogo imenso de palavras. Elas vinham sozinhas e instalavam-se.
Depois, era o revolteio da sedução. As mais usadas, emplumadas, cheias de plásticas para se actualizarem e rivalizarem com as mais discretas. Tontinhas; como se não soubessem do seu justo valor, insistiam na comparação. Como se nas metáforas não se lhes visse os perfis - sim! tantos rostos, tantas as expressões!
Algumas achavam-se modestas para poderem servir a uma ideia mais rebuscada. Ora! Presunção, isso sim! Queria ver como se sentiriam se as deixasse sentadas e não as fosse convidar para rodopiar na dança. Pego-lhes, pois. Acalmam.
Mostro-lhes aquelas mais pequeninas; as palavras-elo. Primeiro, desdenham, mas depois lá percebem que são como as consoantes, que precisam das vogais para se realizarem. É. Onde já se viu realizar-se uma palavra sozinha? Lá as convenço. Acalmam.
Quando desistem de se enfatizar, quando regressam à sua dimensão finita, é aí que as seduzo eu!
- Que é lá isso de se resignarem? Quem as deixou que se acomodassem? Vieram, vão ter que dançar!
Então, cada uma revela o seu ritmo, o seu compasso, o seu pulsar. São tantas as coreografias possíveis que entontecem e querem parar. Não deixo! Não deixo!
- Não vieram sozinhas? Alguém as chamou?
Titubeiam. E reagrupam-se em naipes. Sabem que se estiverem entre pares estarão mais seguras. Tontinhas. E esperam que as chame para dançar. Qualquer delas expectante, oscilantes entre a expectativa do que são e do que as obrigarei a intentar.
Só de as ver me sinto bem. Quando vêm, acalmo. Tontinha. Tão perdida em enleios quanto elas em humores.
Ao fundo, um violoncelo a tocar. Acalmo.
Woman Playing the Violoncello, Róbert Berény, 1928
Hungarian National Gallery, Budapest
1 comentário:
Hoje estou mais para as afogar. Mas registo o violoncelo e fecho-as.
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