Não adianta explicar que Eugénia amava além das medidas, porque medida é um conceito que ela faz explodir e transbordar de todos os estereótipos que conhecemos das mulheres. Deitei-me com muitas para entender que a essa Eugénia eu não a posso arrumar certinha dentro de nenhum ficheiro, como tenho de outras onde rebolei, me deliciei, com quem aprendi, me desdobrei e entreguei nas seivas dos gozos. Eugénia é a minha referência de futuro. Acho que é isso. Ela mostrou-me a cor da carne dos sonhos, desenhou comigo a nudez dos pensamentos e nunca teve vergonha do suor que escorre na palma das mãos quando se tem medo, nem sequer nunca hesitou em mostrar-me as cavernas onde habitavam os seus demónios ou os seus anjos. Ora, isso não se consegue desgarrar das lembranças e pesa tanto, mas tanto na minha memória, que todas as rotas que aleatoriamente fui pisando no encalço de uma mulher inteira, sempre me fizeram esbarrar na impossibilidade da concretização desse desejo - Eugénia não tinha sido produzida em série e eu tinha tido a sorte de me ter cruzado com a única, de tê-la tido sentada nos joelhos, de lhe ter lido toda a poesia nos cabelos desgrenhados, na garganta aberta, no êxtase.
Se hoje aqui falo de Eugénia foi porque acabei de lhe deixar uma orquídea sobre o túmulo. Não pude deixar de reparar que eramos apenas homens os que a acompanharam. Não conhecia nenhum. Aparentemente, nenhum se conhecia também. Entreolhámo-nos com a mesma cumplicidade e aparente estupefacção. De uma forma natural, fomo-nos cumprimentando e tacitamente, no final da cerimónia - sem padre, sem ritual religioso -, agrupámo-nos ao pé do portão e saímos juntos, em silêncio, dirigindo-nos àquele café sempre providencial que ninguém esquece de acoplar a um cemitério. Podem descrer de acreditar, mas hoje eles ajudaram-me a conhecer Eugénia melhor ainda. E como é linda, e livre, essa mulher inteira!...
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